quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Topa ou não topa


São incontáveis os pontos de ferrugem na lataria. Por causa da sujeira e da aparência de velha, a pintura, de cor branca, parece mais um bege-pastel. A impressão é de que o modelo foi fabricado na década de 60.

O parachoque traseiro está parcialmente solto. Um fio de arame segura um lado da peça, na tentativa de que ela fique mais ou menos dentro do eixo.

Ao passar pela rua, vejo a tal Kombi, estacionada na esquina da casa da minha namorada. Se o carro anda, não sei. Mas ouvi dizer que é comum encontrar nas ruas veículos como esse, totalmente destroçados, porém com o motor rodando perfeitamente.

Chego mais perto. Pela traseira, tento ver o que há dentro. Os vidros ensebados dificultam a visão. Caminho então em direção à lateral esquerda. Lá, encontro pendurada uma placa de papelão.

Em letras garranchadas, lê-se: “FAÇO CARRETO, PREÇO A KOMBINAR”.

E aí, alguém se habilita?

Foto meramente ilustrativa. Imagem retirada da internet.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Exaltação à natureza


Deitado num banco de madeira, abro os olhos novamente. Na copa das árvores, vejo miquinhos pulando de galho em galho; ao meu lado, borboletas coloridas voando. Algumas aves caminham pelo mato, em minha direção.

Fecho os olhos. Ouço o barulho das águas, o canto dos pássaros. Sinto o ar puro entrando no meu peito. Um sentimento de paz e tranquilidade toma conta de mim.

Os raios do sol penetram entre as árvores e alcançam o meu rosto. Sinto um conforto especial. Um conforto semelhante ao que um filho recém-nascido experimenta ao ser carregado pela mãe. Uma mãe que tudo provém. A mãe natureza.

Nota do blogueiro: texto inspirado por uma tarde no Recanto da Cascatinha, que fica no Parque das Mangabeiras, em Belo Horizonte.

Crédito da foto: Dione. (Imagem retirada da internet. Publicada por Eva, no OctoPop.)

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Ponto de (des)equilíbrio


Antes de ir pra casa, depois do zazen – uma prática de meditação sentada –, ele passa numa mercearia pra comprar pão, mortadela e outras coisas pra abastecer a geladeira de casa.

Ao chegar lá, dá falta do embutido de carnes. Sossegado, resolve ligar pro estabelecimento.

“Boa noite, meu amigo, é o seguinte: fiz compras aí mais cedo e esqueci a mortadela no balcão. Será que tinha como vocês guardarem pra eu pegar amanhã ou depois de amanhã”.

Surpreso com o pedido, o rapaz da mercearia questionou: “Você vai voltar aqui pra pegar uma mortadela?”

Impulsivo, o outro respondeu. “Porra, lógico que vou meu irmão, você está ficando louco. É o meu café da manhã!”, esbravejou, puto, do outro lado da linha.

Ilustração retirada da internet. Link na imagem.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Alzheimer precoce


Começo de ano. Contas e mais contas pra pagar. Lá estou eu, mais uma vez, enfrentando fila de banco. Na minha frente, uma senhora de uns sessenta e poucos anos.

Após finalizar seu pagamento, ela deixa o caixa, em direção à porta giratória. Segundos depois, volta. Bem humorada, comenta: “Esqueci meus óculos. Acho que é o Alzheimer precoce. Eu ando esquecendo tudo ultimamente”.

Sorrindo e tentando estabelecer empatia com a jovem senhora, disse a ela pra não se preocupar, que é normal e às vezes acontece, até mesmo comigo.

Em seguida, ela respondeu:

“É, meu filho, você tem razão. Acontece. Mas, sabe de uma coisa. O meu marido velho lá em casa ... ah, aquele eu não esqueço jamais”, finalizou a senhorinha, com um ar de satisfação estampado no rosto.

Ilustração retirada da internet. Link na imagem.