Um senhor baixinho, calvo e de barriga saliente, na faixa dos 80 anos, aguardava na minha frente, na fila do caixa da padaria, para pagar o pãozinho francês que tinha acabado de sair do forno. Era umas seis horas da tarde e o dia tinha acabado de escurecer. Chegada a sua vez, ele colocou o saco de pão em cima do balcão e começou a revirar os bolsos em busca de dinheiro trocado. Segundos depois, pegou uma moeda de R$ 1, entregou à menina do caixa, e saiu. No que deu as costas, voltou.
- Me desculpa, moça, mas me vê também um cartão telefônico. Quanto é?
- Depende.
- Como assim, depende?
- É que tem de 20, 40, 50, 75 ... Qual o senhor vai querer?
- Mas tá caro, hein?
- Não, meu senhor, é a quantidade de créditos -, disse ela, rindo.
- Vou querer o mais barato.
- O de 20 é R$ 2,45.
- Tá bom, pode ser esse.
Enquanto a garota pegava o cartão na parte de baixo do balcão, o homem voltou a revirar os bolsos. Mexia daqui, mexia dali. E nada. De repente, tirou a carteira do bolso de trás da calça e sacou uma nota de R$ 50.
- Acho que mudei de ideia. Vou querer o de 75.
- Tá bom, mas esse é R$ 8,50.
- Tudo bem. É esse mesmo que eu quero. É pra falar com a minha netinha de quinze anos, que mora numa cidadezinha distante daqui, na divisa de Minas com São Paulo ...
- Acho que 75 dá pra falar um bom tempo, né? -, disse sorridente o senhor, olhando pra mim.
Sem ter muita certeza, balancei a cabeça em sinal de positivo. Foi uma reação quase que automática. Não tinha como discordar daquele homem, que estava em estado de graça. Mesmo que aquele cartão rendesse uns míseros cinco minutos de conversa. Mas acho que seria os cinco melhores minutos - quem sabe, talvez os últimos - da vida dele. Mas certamente valeria a pena.
Engraçado como algumas pessoas, principalmente de gerações passadas, ainda carregam hábitos pouco comuns nos dias atuais, como o de comprar cartões telefônicos e falar ao Orelhão. Confesso que nem me lembro mais da última vez que usei um cartão desse tipo. Aliás, já faz um bom tempo que eles sumiram da minha carteira. Mas estavam sempe ali, guardadinhos. Para o caso de uma emergência, dizia minha mãe.
Num mundo praticamente dominado pelos celulares, o cartão telefônico e o telefone público perderam seu espaço. É cada vez mais difícil encontrar pessoas utilizando esse meio, apesar da economia que geram - creio eu. É até estranho pensar que antigamente se enfrentava fila pra fazer ligação. E ai de você se demorasse na prosa. Num instante começavam a resmungar e pedir pra andar logo. Fila em Orelhão é fato raro hoje em dia. Pelo menos no que diz respeito à telefonia pública ...
2 comentários:
Bem vindo à 'blogosfera', Fernando. Bacana! Textos legais. Gostei dos dois. Abração, Leandro!
Valeu, Leandro. Vou tentar, na medida do possível, manter uma frequencia de atualizações. Sempre que tiver um tempinho, dá uma passada por aqui. Abraços.
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